Ponte dos cadeados: tradição mantida nas cidades de Paris e Roma

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Cadeados são provas de amor na Ponte Milvio em Roma

Na última segunda-feira (5), o jornal The New York Times International Weekly/A Tarde, página 3, Coluna Diário de Paris, publicou a matéria sob o titulo Nas pontes de Paris, provas metálicas de amor, assinada pela jornalista Alissa J. Rubin. O assunto me chamou a atenção no parágrafo inicial, quando a colunista escreve “(…) alguns dos nomes escritos em milhares de cadeados de metal presos à balaustrada da Pont des Arts, uma das pontes mais belas sobre o Sena na cidade de Paris. As chaves há muito foram jogadas na água por aqueles que colocaram os apetrechos ali, casais que desejam estar, como das fechaduras descreve unidos pelo amor para sempre”.

Provavelmente que em outras cidades europeias existem jovens casais ou turistas “que gostam de professar seus sentimentos através de ferrugens”. Em 2010, por exemplo, quando estive, não em Paris, mas em Roma, recordo-me que ao passar pela Ponte Milvio, fiquei surpreso com a quantidade de cadeados sustentados em correntes presas as balaustradas e nos postes de iluminação com nomes de casais, além de mensagens de amor escritas ao longo da balaustrada da ponte. A cena romântica em Roma é a mesma de Paris: O hábito de jovens apaixonados de prender um cadeado sobre um poste de iluminação ou na balaustrada e depois jogar as chaves no Rio Sena ou Tibre.

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Vista panorâmica da ponte Milvio

Embora as juras de amor “tenham começado a surgir na cidade de Paris em 2008, a tradição remonta há pelo menos cem anos”, cita Rubin. Já em Roma, pensa-se que foi através de Frederico Moccia, autor do romance de culto “Ho voglia di te” (Quero-te em português) que terá sido o ponto de partida para esta recente tradição. De acordo com o romance, um jovem casal escreve os seus nomes num cadeado, depois ata em volta de um dos candeeiros da Ponte Milvio. Em seguida beijam-se e lançam a chave nas águas do Rio Tibre, tal e qual como se faz hoje na vida real.

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Turista observa as chaves lançadas no Rio Tibre

 (Fotos: byJFParanaguá. Direitos reservados. Denuncie abusos)

Ponte Milvio, a mais antiga de Roma

Texto do jornalista Pietro Gallina (ICBIE)

A ponte Milvio é uma das pontes que liga um lado do Rio Tiber (TEVERE) ao outro e está localizado na parte norte de Roma. Ela é uma das mais antigas pontes romanas, já que as primeiras construções datam de 207 a. C., e os antigos romanos também a chamavam de Ponte Mollo. Em 110 d. C. foi construída a primeira ponte de pedra/cimento, já que a original era de madeira.

 A Batalha da Ponte Mílvio aconteceu em 28 de outubro de 312 d. C., entre os imperadores romanosConstantino, e Magêncio. Com a vitória de Constantino, o rumo da história da Europa, por extensão, do Ocidente, foi alterado radicalmente.

A causa subjacente da batalha era a disputa que já durava cinco anos entre Constantino e Magêncio sobre o controle da metade ocidental do Império Romano. Apesar de Constantino ser o filho do co-imperador Constâncio Cloro, o sistema de poder em vigor na altura, a tetrarquiatetrarquia, que havia sido implantada em Roma pelo imperadorDiocleciano, não previa necessariamente uma sucessão hereditária. Quando Constâncio Cloro faleceu a 25 de julho de 306, as tropas de seu pai proclamaram Constantino como o augusto (28 de outubro de 306), mas em Roma o favorito era Magêncio, o filho do predecessor de Constâncio Cloro, Maximiano. Ambos os homens continuaram a clamar o título desde então, apesar de uma conferência que deveria resolver a disputa ter resultado na nomeação de Magêncio como imperador sénior, juntamente com Galério. A Constantino foi dado o direito de manter as províncias da Britânia e na Gália, mas era oficialmente apenas um “césar“, ou imperador júnior.

Em 312, os dois homens estavam de novo em conflito, apesar de serem cunhados. Muito disto era por obra do pai de Magêncio, Maximiano, que tinha sido retirado à força do cargo de imperador em 305 por pressão de Diocleciano. Maximiniano maquinou e enganou o próprio filho como também Constantino, tentando a reaver o poder. Acabou por ser executado por Constantino em 310. Quando Galério morreu, em 312, a luta pelo poder estava aberta. No verão de 312, Constantino reuniu as suas forças e decidiu resolver a contenda pela força.

Ele conquistou facilmente o norte da península Itálica, e estava a menos de 15 quilômetros de Roma quando Magêncio decidiu defrontá-lo frente à Ponte Mílvio, uma ponte de pedra (ainda existente) sobre o rio Tibre, na Via Flamínia, que continua até Roma. Dominar a ponte seria crucial para Magêncio manter o rival fora de Roma, onde o senado decidiria seguramente por quem quer que conquistasse a cidade.

Constantino, à sua chegada, compreendeu que tinha feito um erro de cálculo e que Magêncio tinha muitos mais soldados à disposição do que ele. Algumas fontes dizem que a vantagem era de 19 para um a favor de Magêncio, mas a proporção mais provável era de quatro para um. De qualquer forma, Constantino tinha um desafio pela frente.

A tradição sustenta que, ao anoitecer de 27 de outubro, quando os exércitos se preparavam para a batalha, Constantino teve uma visão quando olhava para o sol que se punha. As letras gregas XP (ChiRho, as primeiras duas letras de ???????, “Cristo”) entrelaçadas com uma cruz apareceram-lhe enfeitando o sol, juntamente com a inscrição “In Hoc Signo Vinces” —latim para “Sob este signo vencerás”. Constantino, que era pagão na altura (apesar de que provavelmente sua mãe fosse cristã), colocou o símbolo nos escudos dos seus soldados. De fato, existem duas narrativas mais ou menos contemporâneas do episódio: Segundo o historiador Lactâncio, Constantino teria recebido num sonho a ordem de inscrever “o sinal celeste nos escudos dos seus soldados”- o que teria feito ordenando que fosse neles traçado um “estaurograma”, uma cruz latina com sua extremidade superior arredondada em “P”. Segundo Eusébio de Cesareia, o próprio Constantino teria lhe dito que, numa data incerta – e não necessariamente na véspera da batalha – teria tido, ao olhar para o sol, uma visão de uma cruz luminosa sobre a qual estaria escrito, em grego, “?? ????? ????”, ou, em latim, in hoc signo vinces– “com este sinal vencerás”, e que, na noite seguinte, Cristo lhe teria explicado em sonho que esta frase deveria ser usada contra seus inimigos.

No dia seguinte, os dois exércitos confrontaram-se e Constantino saiu vitorioso. Já conhecido como um general hábil, Constantino começou a empurrar o exército de Magêncio de volta ao rio Tibre e Magêncio decidiu recuar, para defender-se mais próximo de Roma. Mas só havia uma escapatória, pela ponte, e os homens de Constantino infligiram grandes perdas no exército em fuga. Finalmente, uma ponte de barcas colocada ao lado da Ponte Mílvio pela qual muitas das tropas escapavam, sofreu o colapso, tendo os homens que ficaram na margem norte do rio Tibre sido mortos, ou feitos prisioneiros, com Magêncio entre os mortos.

Constantino entrou em Roma pouco depois, onde foi aclamado como o único Augusto ocidental. Ele teve creditada a vitória na Ponte Mílvia à “Divindade” – ou a “uma Divindade” (na formulação deliberadamente ambígua escolhida pelo senado romano, simpatizante do paganismo, para ser colocada no seu arco do triunfo), e ordenou o fim de todas as perseguições aos cristãos nos seus domínios, um passo que ele já tinha tomado na Britânia,na Gália e Hispânia em 306. Com o imperador como patrono, o cristianismo, que já era muito difundido no império, explodiu em conversões e poder.

Em 1849 Giuseppe Garibaldi mandou explodir parte da ponte, para atrasar a avançada do exército francês. Em 1850 foi reconstruída, e desde 1978 é aberta somente para a passagem de pedestres.

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