O comentário da internauta Eliana Palhares, transcrito do post publicado sob o título Entrevista com o grafiteiro Thito Lama, em 14 de julho do mês passado, “acho muito legal as entrevistas realizadas com os grafiteiros. (…)Tem um grafiteiro do interior de São Paulo chamado Stan Bellini que faz uns desenhos muito maneiro pela sua técnica. Adoraria ver uma entrevista dele com vocês’, motivou ao A Arte na Rua a realizar uma entrevista on-line com o referido artista.
Stan Bellini (Leandro Augusto Bellini), 31 anos, 2º grau completo, natural de São José do Rio Preto (SP), é um grafiteiro que gosta de pintar “cotidianos diferentes ou até mesmo no mundo surreal, sempre com a mesma característica”. Ele curte o estilo de Does, espelha-se nos Gêmeos e Vitche, além de ter bons amigos baianos, como por exemplo, Bigod, Vidal, dentre outros. Confira:
A Arte na Rua (AAR) – Sua atuação no cenário urbano foi iniciada como pichador ou grafiteiro?
Stan Bellini (SB) – Eu sempre desenhei desde criança. O mais interessante é que não fui eu que escolhi fazer o grafite, mas o grafite que me escolheu. E quando percebi já estava fazendo.
AAR – Como você assina o seu nome artístico? E qual é o significado?
SB – Stan é um nome comum nos EUA e Bellini é meu sobrenome.
AAR – Por que você escolheu esse nome?
SB – Por que achei legal, gostei e comecei assinar.
AAR – Quando aconteceu o seu envolvimento com a arte?
SB – Começo de 2001.
AAR – Você herdou o dom de alguém da família?
SB – De minha mãe e meus avós. Eles têm facilidades com a arte. Minha tia também pinta tela e eles sabem o que é sentir o amor pela arte. Meu irmão mais velho sempre desenhou melhor do que eu. Quando era pequeno copiava muito os seus desenhos. Pra mim, ele era o melhor desenhista. Sempre que mostrava pra ele meus desenhos, dizia: “isso está errado”. Atualmente ele não desenha mais. Preferiu seguir outra carreira. Hoje, ele é um grande admirador dos meus trabalhos.
AAR – Qual foi o motivo de escolher o grafite?
SB – Como lhe falei no início da entrevista, não fui eu que escolhi fazer o grafite, mas o grafite que me escolheu. Eu não me vejo fazendo outro seguimento que não seja o grafite. Já me fizeram convite pra fazer tattoo e, eu não quis, mesmo sabendo que me daria mais dinheiro no momento. Prefiro ganhar pouco e fazer o que amo: grafite.
AAR – Você se espelhou em algum grafiteiro? Cite o nome.
SB – Sim. Nos Gêmeos e Vitche.
AAR – Tem outras referências?
SB – Gosto de ter referências em outros estilos também, como por exemplo, o artista Does, dentre outros nomes que são muitos.
AAR – Você tem um personagem? E quem é ele?
SB – Sim. Mas não tem nome. Ele é baseado muito em mim, nos meus gostos. E também gosto de basear meu personagem em outras pessoas ou cotidianos diferentes ou até mesmo no mundo surreal, sempre com a mesma característica.
AAR – Você percebe se o seu trabalho é reconhecido?
SB – Às vezes. Quando participo de algum evento em uma cidade que nunca fui o pessoal me conhece e curti o meu trabalho.
AAR – Descreva o prazer que você sente ao grafitar um espaço?
SB – Às vezes não sei nem como explicar isso. É como se eu me desligasse do mundo. Não sinto sede, fome e não percebo a hora passar. Perco a noção do tempo. Tem vezes que pego tanto amor por um trabalho que nem quero vender a tela (Risos).
AAR – Como é que se dá a escolha do local para pintar?
SB – Tento deixá-lo o mais natural pra que o desenho sai de dentro de mim e flua com o muro e até mesmo o local.
AAR – Existe liberdade para grafitar em sua cidade?
SB – Desde que seja autorizado não há problemas.
AAR – Qual é o seu estilo?
SB – Desenhos de personagens.
AAR – Como foi o processo de evolução do seu estilo?
SB – Sempre desenhei o mesmo personagem. Foi evoluindo naturalmente conforme fui crescendo e ele crescendo comigo.
AAR – Suas pinturas surgem de inspirações no momento ou são temas já elaborados?
SB – Ás vezes já me pedem com um tema. Entretanto, procuro mesclar o mais possível o tema com minha arte. E mais: gosto muito de momentos e de que minha arte fale com o lugar.
AAR – Cite três grafites que você mais gostou e o local onde foram pintados.
SB – Não tenho como citar, pois no momento da pintura tento deixá-lo o mais agradável pra mim. E nem sempre consigo fazer o que realmente está na minha cabeça. Então, mesmo gostando no final, se passar alguns dias já não gosto tanto e sempre fica faltando alguma coisa. Mas, nunca volto pra mudar nada, por que o que pintei naquele momento, as ideias foram pra aquele dia. Então não mexo.
AAR – O que arte de rua lhe proporciona?
SB – Conhecer lugares onde jamais imaginei conhecer, fazer muitos amigos e muitos momentos incríveis.
AAR Você já sofreu alguma abordagem da polícia ou de alguém enquanto fazia uma pintura?
SB – Sim. Já prenderam todo o meu material. Também sofri uma abordagem, devido não ter autorização para pintar.
AAR – Que diferença você percebe de quando começou até agora?
SB – Hoje acho que está um pouco mais fácil. A população entende mais o que é arte.
AAR –Você conhece algum grafiteiro de Salvador?
SB – Sim, grandes amigos como Bigod, Vidal e outros.
AAR – Em sua opinião, o grafite ainda é considerado uma arte marginalizada pela população?
SB – Ainda tem alguns que não entendem. Mais boa parte já entendem.
AAR – Você desenvolve algum trabalho social?
SB – Trabalho em projetos sociais da prefeitura de minha cidade, com crianças jovens e até mesmo com adolescentes que cumprem medidas sócioeducativas.
Contatos:
Instragran: stan_bellini
(Fotos: byStan Bellini e Koka (MX).
Que lindo os trabalhos postados nessa entrevista! Não é todo tipo de grafite q me encanta mas estes tem alma! Parabéns a todos os artistas dessa modalidade ainda tão sem espaço e ao Bellini por sua sensibilidade. Vejo tantos quadros por ai borrados de tinta valendo uma fortuna e cada dia me convenço mais que há mais artistas nas ruas que em galerias expondo. Parabéns a todos mais uma vez!
Olá Edna! Obrigado pelos comentários. Pra mim foi muito importante ter a oportunidade de conhecer o trabalho e entrevistar esse jovem talento.
Lindo trabalho, tudo bem perfeito. É um trabalho admirável.
Olá Eloana! Agradeço-lhe pelo acesso ao blog. Realmente, Bellini é merecedor dos seus elogios.
Muito obrigado pela entrevista…foi um prazer poder falar um pouco de mim…e parabéns pelo seu trabalho.
Quem agradece sou eu pela oportunidade de entrevistá-lo e conhecer o seu belíssimo trabalho.
Sucesso!