Arte, cultura e lazer atravessando o sertão baiano, sergipano, alagoano e pernambucano III

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Da parte central da ponte, observa-se parcialmente o cânion a e hidroelétrica de Paulo Afonso

Vinte e seis de junho, quarto dia de viagem. Depois do farto café da manhã, com as baterias carregadas, levantamos acampamento e pé na estrada com destino a cidade de Caruaru, em Pernambuco. Após cruzar a ponte metálica (divisa BA/AL), decidimos visitar a primeira usina hidroelétrica construída no Nordeste, pelo empresário visionário Delmiro Gouveia, no ano de 1913. Tombada pelo Iphan em novembro de 2006, transformou-se em Sítio Arqueológico e Histórico de Angiquinho. Está localizado, à esquerda da BR-423, no distrito Jardim Cordeiro, município de Delmiro Gouveia, Alagoas, distante 14 km de Paulo Afonso.

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A monitora Aline Bezerra (de frente) explica as fases da construção da hidroelétrica de Angiquinho executadas pelo empreendedor Deimiro Gouveia

A visita ao sítio é guiada e tem duração de uma hora e meia. O roteiro é feito de carro, no próprio veículo do visitante (Clique aqui e assista o video). Seguiu em nossa companhia a simpática monitora credenciada pela Chesf, Aline G. Bezerra, formada em letras.

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Diferentes paisagens fazem parte…

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…do roteiro do sítio histórico

Durante o roteiro a monitora relata fatos sobre a antiga usina e da vida de Delmiro Gouveia. Antes de chegar a vila, fizemos uma parada em um dos mirantes de onde se tem uma visão deslumbrante da paisagem, dos cânions e do rio São Francisco (Clique aqui e assista o video).

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Á direita, na parte superior, detalhe da usina de Angiquinho

Na vila dos operários, pra quem gosta de aventura, vale a pena descer o penhasco pelas estreitas escadas de ferro até as salas das máquinas.

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Área de acesso à casa de máquinas

Como nossa intenção não era essa, preferimos apreciar as construções (Clique aqui e assista o vídeo), conhecer a estrada de ferro, além dos espaços com exposições fotográficas sobre as vidas de Delmiro Gouveia e Lampião, Maria Bonita e seus cangaceiros.

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Trechos preservados da estrada de ferro

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Uma das reproduções dos bilhetes endereçados por Lampião aos coronéis em exposição no sítio

Este blogueiro posa ao lado de um “troller” com a famíilia e a monitora Aline Bezerra

Foi uma oportunidade única vivenciarmos “in loco” a história desse homem visionário, que teve ousadia, persistência e determinação para realizar o seu projeto.

Saindo do sítio Angiquinho, botei o pé na estrada novamente em direção a Caruaru, mas fazendo algumas paradas para descanso até chegar a cidade de Garanhuns. Nesse trecho que rodei aproximadamente 210 km, com retas, subidas e descidas leves, a rodovia está em ótimas condições e bem sinalizada.

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Animais (jegues) abandonados nas rodovias são um perigo

Em alguns pontos a atenção deve ser redobrada por conta de jegues na pista. Esses animais como estão sendo abandonados, acabam indo para a rodovia, causando riscos de acidentes.

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Estêncil do artista Expedito Dias e…

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…a pintura de Sanio em homenagem ao sanfoneiro Dominguinhos

Chegamos a Garanhuns terra natal do saudoso cantor, sanfoneiro e compositor Dominguinhos. Na Praça Tavares Correia, o relógio de flores, um dos cartões postais da cidade, marcava 12h52min. É o único no Norte e Nordeste nesse estilo, medindo 4 metros de diâmetro. A temperatura naquele momento era de 22 graus e logo foi percebida pelas crianças. Em Salvador, estamos acostumados com temperaturas entre 28 a 30 graus.

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Relógio das flores: principal cartão postal da cidade

A origem do nome Garanhuns tem várias versões, sendo a mais comum a que diz tratar-se de palavra indígena identificadora de sítios dos guarás (cães selvagens) e anuns (espécie de pássaro preto). Vale lembrar que a serra onde surgiu o município era conhecida pelo nome da Tribo Garanhuns, de origem cariri, que ali habitava. É reconhecida carinhosamente como a “Suiça Pernambucana” e está situada acima do nível do mar.

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Conjunto arquitetônico do Seminário São José

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Vista parcial do Santuário da Mãe Rainha de Shoenstatt

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Ambiente de muita paz no interior da capela

Após o almoço fomos ao Santuário da Mãe Rainha de Shoenstatt, situado na colina do Triunfo, Loteamento São Carlos. O local com uma bela paisagem, cercado de muitas árvores, transmite muita paz.

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Entrada do Beco do Fumo

Em seguida, fomos conhecer o Beco do Fumo, um dos pontos mais tradicionais do comércio da cidade. Localizado ao lado do Mercado 18 de Agosto, onde existe grande movimentação de veículos é muito difícil estacionar. Tive que dar algumas voltas até encontrar uma vaga. Mas valeu o sacrifício!

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Shirley e as crianças ao lado de Júnior (camisa verde) um dos comerciantes do Beco do Fumo

byShirley Paranaguá

Este blogueiro ao lado de um rolo de fumo, único produto vendido antes da transformação do local

O Beco do Fumo para quem não conhece, é o local onde se comercializava rolos de fumo – principal produto vendido antigamente -. Depois das mudanças estruturais, o comércio diversificou. Uma variedade de coisas é vendida nas barraquinhas distribuídas ao longo do beco, como por exemplo, pomadas medicinais, incensos, ratoeiras, utensílios domésticos, candeeiros a querosene, brinquedos, dentre outros.

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Pórtico de sinalização na saída da cidade de Garanhuns

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Carro-de-boi, importante meio de transporte utilizado nas cidades interioranas

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Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, cidade de Jupi

De Garanhuns a Caruaru gastei cerca de 1h30min. Foram 105 km aproximadamente trafegando pela BR-423 até a rotatória de acesso a BR-232 e mais um trecho da PE-104. Por fim chegamos a Caruaru nosso destino, onde ficaríamos hospedados no City Express Hotel e passaríamos três dias.

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Grafite do artista urbano pernambucano que assina com a tag “Peixe Fora d’Água, na rodovia PE-104, Caruaru

Caruaru, a “Capital do Agreste” é considerada o município mais populoso do interior pernambucano e localiza-se na região do Agreste. Também é conhecida como “Capital do Forró”, por realizar a maior festa junina do Brasil. Destaca-se ainda, como maior centro econômico no segmento artesanal, têxtil, industrial e cultural, atraindo visitantes de várias partes do país e do exterior.

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Escultura de São Francisco de Assis em frente a igreja com o mesmo nome, centro da cidade

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Estátuas em homenagem à dupla de humoristas Coronel Ludugero e Otrope, centro da cidade

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Igreja de Nossa Senhora da Conceição, centro cidade

Na noite do dia 26, fomos conhecer o Pátio de Eventos, armado no Parque Luiz Lua Gonzaga, Rua Guaporé, centro da cidade, local da realização dos festejos juninos “100 anos de artes figurativas”. Como chegamos cedo foi fácil o estacionamento do veículo próximo à praça, mas tive que desembolsar R$30,00, um valor bem salgado.

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Painel na entrada do Pátio de Eventos

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Monumento em homenagem a Luis Gonzaga, o Rei do Baião

Na praça Luiz Gonzaga, o monumento em homenagem a Luiz Gonzaga, Rei do Baião, virou parada obrigatória para registros de fotos e selfies. A organização do evento caprichou na decoração e na infraestrutura (Clique aqui e assista o video). Diversas barracas e restaurantes vendiam comidas típicas e bebidas. Alguns restaurantes mais próximos do palco principal tinhas áreas vips.

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Palco principal: local onde se apresentaram as estrelas no São João de Caruaru

Ao som da banda Forró Vumbora, primeira atração da noite, aproveitamos para jantar. Imagine qual foi o pedido? Acertou quem pensou em carne de bode. Tão gostosa quanto a que degustamos em Jorrinho, na região do semi-árido baiano. O bode assado foi servido com feijão fradinho, farofa, arroz, salada e acompanhado de suco de laranja e uma garrafa (375 ml) de vinho tinto seco pra selar a segunda etapa da viagem.

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Pintura dos artistas Xyrox, Grillo e Muro, no bairro Alto do Moura

No segundo dia em Caruaru, programamos conhecer o Alto do Moura, considerado o maior centro de artes figurativas das Américas e a noite visitar a Feira de Artesanato e assistir a apresentação de quadrilhas, no Polo das Quadrilhas, no centro.

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Entrada priincipal do bairro Alto do Moura; decoração no período dos festejos juninos

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Bandeirolas, balões, barracas e muitos turistas na principal rua do bairro

Saímos pela manhã pra visitar o Alto do Moura, bairro de Caruaru e distante 5 km do hotel. Esta área é reconhecida pela Unesco como o maior Centro de Artes Figurativas das Américas. Conseguimos estacionar bem próximo da Rua Mestre Vitalino por um preço relativamente baixo: R$5,00.

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Veículos Toyotas Bandeirantes com chassis alongados…

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…são considerados Patrimônio da Comunidade de Alto do Moura

Durante o trajeto até chegar ao Alto do Moura me chamou atenção a circulação pelas ruas, a quantidade de Toyotas Bandeirantes alongados. Esses veículos são utilizados para transportar passageiros do Alto do Moura para o centro da cidade e feiras livres da região.

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Arte figurativa de barro representando uma cerimônia de casamento

Em toda a extensão da rua, a maioria das casas funciona como ateliês. Cada morador é um artesão de barro. Independentemente de vinculação genética se sente impulsionado pela vocação, fazendo surgir uma infinidade de peças, inspiradas ou não nos grandes mestres. Como por exemplo, o mestre Vitalino (Vitalino Pereira dos Santos), que revolucionou a arte figurativa no Brasil e transformou a paisagem do Alto do Moura.

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Casa-Museu Mestre Vitalino, um dos locais mais visitados do Alto do Moura

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Móveis, cerâmica e louças que pertenceram ao mestre Vitalino estão em exposição no local

A casa onde o mestre Vitalino residiu e depois da sua morte tornou-se a Casa – Museu Mestre Vitalino é o lugar mais visitado. A entrada custa R$2,00 por pessoa. Quem atende é uma jovem, membro da família do ilustre artesão, por sinal, muito atenciosa. No interior da Casa – Museu está reunido fotografias, móveis, imagens, louças e peças que pertenceram ao grande mestre Vitalino.

Divulgação

Mestre Severino Vitalino (camisa bege) posa ao lado deste blogueiro acompanhado da mulher e das filhas

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Shirley observa o mestre Cícero José ensinando Iamani e Irani a criar objetos e animais com o barro

Dois acontecimentos marcaram a nossa vista ao Alto do Moura: Primeiro, na Associação dos Artesões em Barro e Moradores do Alto do Moura, a paciência e o jeitão carinhoso do mestre Cícero José, ensinando minhas filhas a modelar com barro pequenos animais e instrumentos musicais (Clique aqui e assista o video). O aprendizado foi colocado em prática com bons resultados.  Segundo, na Casa – Museu a oportunidade de conhecer e bater um papo com o mestre Severino Vitalino, 75 anos, filho do grande mestre, que resultou numa entrevista (Clique aqui e assista o video).

Divulgação

Ambiente agradável e boa comida no restaurante Bode Assado do Luciano

Em seguida fomos almoçar no Restaurante e Bar Bode Assado do Luciano, indicação no guia de turismo de Pernambuco.. O espaço é bem agradável, bom atendimento e ótima comida. Degustamos filés de bode e de carne-de-sol com queijo coalho, acompanhados de arroz, feijão tropeiro e vinagrete. Valeu a pena a dica! Depois continuamos a visita a outros ateliês e aproveitamos para compras umas lembranças.

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O Memorial Mestre Galdino fica localizado no final da rua

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Fachada da residência do artesão Leonaldo, comprova a paixão pelo time do Corinthians

À noite estivemos na Praça da antiga Estação Ferroviária, no centro da cidade, local onde foi montado um belíssimo cenário interiorano, com iluminação cênica, igrejinha e várias casinhas, onde estavam em exposições todos os tipos de artes figurativas produzidas pelos artesões, teatro de bonecos (Clique aqui e assista o video), além das barracas com comidas típicas e bebidas e restaurantes espalhados pela praça.

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Pórtico de entrada da Feira de Artesanato na Praça da Estação Ferroviária

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A igrejinha foi um dos atratiivos da feira

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(E) Iamani e Irani ao lado da fantasia “Boi Tira Teima”, exposta na barraca da Associação Arte e Cultura Mestre Gercíno

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Shirley, Iamani e Irani ao lado de uma escultura de barro no interior da feira

A apresentação de quadrilhas é uma grande atração no São de Caruaru. Tivemos a prova disso, quando chegamos ao Polo das Quadrilhas. Um grande número de pessoas já ocupavam as arquibancadas. O show de abertura da Quadrilha do Amor com o tema “Ouro” foi um espetáculo.

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Integrantes da Quadrilha do Amor dão um show…

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…na abertura do espetáculo no Polo das Quadrilhas, Praça da Estação Ferroviária

Ficamos impressionados com a apresentação, figurino, animação, cenário, o uso de artifícios, como canhão de papel picado, gelo seco e painéis decorativos. Que espetáculo maravilhoso! (Clique aqui e assista o video).

Um fato a lamentar: a falta de educação das pessoas que se aglomeram em frente dos que estão sentados nas primeiras fileiras das arquibancadas. Mesmo em pé, minhas filhas tiveram dificuldades de assistir. Com a chegada de mais pessoas, desistimos de continuar no local e retornamos ao hotel. No dia seguinte, seguiríamos com destino a Olinda.

(Fotos: byJFParanaguá, Irani Paranaguá, Iamani Paranaguá e Shirley Paranaguá. Denuncie abusos. Direitos reservados).

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