Entrevista com o grafiteiro feirense Kbça

Kbça: "nas minhas pinturas, as mulheres continuarão sendo sempre uma rainha"

Kbça: "nas minhas pinturas, as mulheres continuarão sendo sempre uma rainha"

O grafiteiro Kbça (Geziel Rafael da Silva Ramos), 23, nasceu no município de Feira de Santana –“A Princesa do Sertão”-, interior do Estado da Bahia. Concluiu o 2º Grau no Colégio Estadual Uyara Portugal, bairro da Fraternidade, onde reside. Atualmente é instrutor de grafite na Fundação Sócio-Educativa Juiz Melo Matos. As primeiras intervenções na rua aconteceram com a Crew Noz, utilizando rolinhos e frascos de desodorante cheios de tinta. Depois dessa fase de bombs e letras, o jovem artista feirense decidiu expressar através da sua arte a figura da mulher, como uma forma de mostrar o valor dela perante o mundo. Na entrevista a seguir você vai conhecer mais sobre o artista.

 (Denuncie abusos. Direitos reservados. Fotos: byJFParanaguá e Kbça [Gesiel Ramos]).

byJFParanaguá

A Arte na Rua – Você herdou de alguém da família o gosto pelo desenho?

Grafiteiro Kbça – Na minha família somente eu e um primo se interessaram pela arte, sendo que ele usa a técnica do aerógrafo.

AAR – Como aconteceu seu contato com a arte?

GK – Desde quando me entendo por gente gosto de desenhar e pintar. Tanto que um dia a minha professora da alfabetização chegou a me mostrar meus desenhos. E não desenhava mal (risos).

AAR – Quais foram os primeiros desenhos?

GK – Eram sempre árvores, Sol; desenhos bem infantis mesmo.

AAR – Qual a origem do seu tag?

GK – Minha mãe é filha de pernambucanos, daí nem precisa explicar o motivo do tag Kbça (risos).

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AAR – Recorda-se do primeiro “picho”?

GK – No Colégio tinha algumas pessoas que curtiam Hip Hop e faziam grafites no caderno. Como todo mundo conhecia todo mundo conversei com os caras e sentamos juntos para desenhar. Éramos chamados na época de “noz” e ninguém sabia fazer um trampo. Então decidimos sair pra fazer bombs na rua, com frascos de desodorante cheios de tinta. Depois assinávamos a tag da crew: Noz.

AAR – Como se sentiu no dia?

GK – Fiquei alegre demais e muito emocionado ao estar com os amigos na rua pintando.

AAR – Seus pais como reagiram ao saber desse acontecimento?

GK – Venho de uma família de religiosos. Meu pai e mãe são pastores da Igreja Assembléia de Deus. Então, tudo que foge aos parâmetros da igreja é estranho, bizarro e diabólico. E até hoje não abrem a boca pra dizer: eu apoio. Pra eles não passa de besteira e coisa de vagabundos.

AAR – Quanto tempo durou essa fase?

GK – Não demorou muito tempo. A Crew Noz foi se acabando, as pessoas foram se afastando, uns pararam de desenhar e eu acabei ficando sozinho. Decidi a partir daí focar no grafite, cores, entre outras técnicas.

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AAR – E como chegou ao grafite?

GK – Certo dia, dois grafiteiros de Salvador (Gótico e Bigu) vieram fazer um trampo na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Foi o meu primeiro contato com a arte do grafite.

AAR – Foi influenciado por algum grafiteiro ou amigo?

GK – Quando comecei a pesquisar sobre o grafite decidi que era aquilo o que queria fazer. O grafiteiro baiano Bigod foi um dos caras que observei pintando e me deixou convicto da minha arte. Tive a oportunidade de acompanhar suas performances num evento na cidade e ali foi o gás que me faltava. Tem outros artistas que me inspiro, a exemplo de Herakut, Madc, Titi Freak, Combone, Kajaman, Marcelo e Ment.

 AAR – Você iniciou com bomb ou personagem?

GK – Bombs e letras.

AAR – Comente sobre sua evolução?

GK – Acho que a evolução é constante a cada pintura. Um traço novo é sempre uma superação. Percebo que ainda estou nessa fase de evolução.

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AAR – Quem é o personagem das suas criações?

GK – Depois da fase de bombs e letras comecei a me aventurar pelo mundo de personagens. Iniciei pintando figuras baseadas na cultura chinesa, até optar pela criação de personagens próprios, definindo uma característica para o meu trabalho. Utilizo a pintura da personagem mulher como uma forma de mostrar o valor dela perante o mundo. E mais: acho que hoje as mulheres estão sendo desvalorizadas, não só na violência, como na prostituição, entre outros fatores. Nas minhas pinturas, retrato sempre as mulheres com uma coroa, representando uma rainha que elas são. E pra mim, elas continuarão sendo sempre uma rainha.

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AAR – Quando foi e onde você fez o primeiro grafite?

GK – Em 2008, num muro entre os trechos da Rodovia Feira de Santa/São Gonçalo, feito de rolinho e pincel. Nesse dia fiquei feliz pra caramba!

AAR – Qual a reação da população?

GK – Positiva. As pessoas passavam, agradeciam e elogiavam. Foi legal!

AAR – Você integra alguma crew?

GK – Faço parte da NDF Crew (Noz de Feira).

AAR – Quem são os integrantes?

GK – Max, Zureta, Amaro, Muchu e Charles. Todos são da cidade de Feira de Santana.

 AAR – Quais das suas intervenções você considera a mais importante?

GK – Desde quando juntou a turma pra pintar, já com a NDF Crew formada, foram várias intervenções em Feira de Santana. Mas, com certeza a mais importante pra mim foi a realizada no encontro no dia 27 do mês de maio de 2012.

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AAR – Você já participou de alguma atividade fora de Feira de Santana?

GK – Sim. Em novembro de 2011, tive a oportunidade de participar do MOF (Meeting Of Favela), na cidade do Rio de Janeiro, considerado mundialmente o maior encontro de grafite. Participar desse evento foi pra mim uma sensação indescritível, além da troca de experiência, poder conhecer pessoas de outros países e fazer novas amizades. Foi muito louco! Também participei de encontros em Serrinha, Salvador e Conceição do Coité.

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AAR – Você desenvolve alguma atividade social na comunidade?

 GK – Como integrante da H2F, que é uma Associação de Hip Hop, participo dos projetos e trabalhos em comunidades carentes de Feira de Santana, desenvolvendo atividades de música, arte e dança. Inclusive dou aulas de grafite para menores infratores.

 AAR – Como você vê a cena urbana em Feira de Santana?

GK – Só posso dizer uma coisa: estamos chegando na humildade!

 AAR – Sempre em suas mensagens você menciona Deus. Tem alguma relação com a sua religião?

GK – De certa forma sim. Fui nascido e criado na igreja e trago esse ideal para a minha vida. Acho que a verdadeira religião é Jesus. Ele foi o exemplo vivo de como devemos viver em paz e harmonia. E busco levar e transmitir isso às pessoas.

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AAR – Quem é (são) seu (s) ídolo (s) da arte urbana?

GK – Faith44, Heraut, Titif Freak, Madc.

AAR – Como se sentiu ao ver realizado o 1º Encontro de Grafite de Feira de Santana?

GK – Pra mim a realização do encontro foi a concretização de um trabalho, desde os contatos com os amigos até a população. Tudo que aconteceu ali vai ficar marcado dentro de mim. O encontro foi tudo e mais um pouco do que pensei. Agradeço a todos que participaram direta e indiretamente de tudo isso.

AAR – Quais são os projetos futuros?

GK – Quero criar um museu de arte urbana, pintando os viadutos da cidade. Estamos com um projeto em vista pra ver se rola.

AAR – Qual a mensagem você quer deixar nas suas pinturas?

GK – Respeito!

6 comments for “Entrevista com o grafiteiro feirense Kbça

  1. thays
    16 de janeiro de 2017 at 11:22

    Kbça, gostaria de receber o teu número de contato para fazer uma proposta junto a uma faculdade, com certa urgência. Segue meu contato: 71. 99169.0009.
    Agradeço.
    Abs,

  2. patrícia lessa de santana jesus oliveira
    9 de agosto de 2015 at 13:20

    Kbça, eu sou professora e trabalho numa escola aqui em Feira de Santana. Agora na terceira unidade, estamos trabalhando com um projeto muito legal, que é o Pintando o sete. Só falta o nome do artista…Queria muito fazer essa homenagem a vc, pois fiquei encantada com o seu trabalho. Já mostrei às crianças e elas também amaram. Entra em contato comigo pra podermos conversar melhor!!?

  3. 19 de outubro de 2012 at 06:20

    Estou abrindo uma loja de decoração e estou pensando de grafitar a porta. Preciso entrar em contato com vc.

  4. 1 de agosto de 2012 at 01:36

    Isso sim é talentoso e bonito. Não essas pichações que vemos nas ruas.

  5. Eder RATM
    13 de junho de 2012 at 10:53

    A arte é indispensável para a vida das pessoas. Com ela podemos mostrar nossos ideais, protestos e valores. Esse garoto vai longe. Que ele sempre mantenha esse foco e não se separe nunca de sua arte. Abraços.

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