Giro pelo Recôncavo III

Painel grafitado pelos artistas do Recongraffiti...

Painel grafitado pelos artistas do Recongraffiti...

Este é o último post do Giro pelo Recôncavo. Na abertura do artigo anterior comentei a respeito da passagem pela cidade de São Félix, que fica a 120 km de Salvador. Estava na companhia de minha mulher Shirley e das filhas Iamani e Irani.  Sendo uma sanfelista e conhecedora da cidade, levou-me aos principais pontos turísticos no centro, ao antigo casarão onde morou com os pais até a adolescência, além de relembrar que seus parentes fazem parte da história da cidade. O seu bisavô materno, por exemplo, “Coronel” João Miguel da Silva, exerceu a presidência da Câmara (1921/1922), foi intendente Municipal (prefeito) substituto (1922 a 1924) e intendente eleito pelo voto popular (1924 a 1928). O bisavô paterno, Tarsilo Britto, delegado de polícia e proprietário de uma das fábricas de sabão e vela e o seu pai Otávio Navarro de Britto, auditor fiscal, foi uma pessoa de grande influência no meio político sanfelista.

... nas imediações do Mercado Municipal

... nas imediações do Mercado Municipal

Os paineis grafitados que ilustram este artigo, são de autoria de Marcos Costa (artista visual) e Thito Lama (grafiteiro e arte-educador) do Projeto Cultural Recongraffiti (Excursão Artística para difusão da linguagem do Graffiti nas cidades de Cachoeira, Muritiba e Santo Amaro da Purificação/Primeiro Circuito de Oficinas e Graffiti do Recôncavo Baiano). (Fotos: by JFParanaguá. Denuncie abusos. Direitos reservados).

Escultura de São Félix do Paraguassú (1895)

Escultura de São Félix do Paraguassú (1895)

São Félix completa no mês de outubro 122 anos de emancipação com uma história cheia de bravura e heroísmo. Nasceu de uma aldeia de índios tupinambás que habitavam nas margens do rio Paraguaçu. Até o final do século XVIII pertencia à freguesia de Nossa Senhora do Porto do Rosário. Em seguida passou a integrar a freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Outeiro Redondo e mais tarde freguesia de Senhor Deus Menino de São Félix, origem da cidade.

Vista parcial da "Cidade Presépio"

Vista parcial da "Cidade Presépio"

Durante as lutas pela Independência da Bahia, São Félix prestou relevantes serviços lutando ao lado de Cachoeira, à qual era vinculada administrativamente, e nesta luta o sangue sanfelista banhou o solo em defesa do Brasil. São Félix também se transformou numa praça de guerra, entrou em luta em prol de uma causa comum. Primeiramente partiram as canoas cheias de sanfelistas, atirando contra os déspotas lusitanos. Muitas embarcações afundaram devido a fuzilaria incessante da escuna portuguesa, tendo morrido muita gente nas águas do Paraguaçu. Outros participaram na vanguarda do batalhão dos Periquitos, sob o comando de José Antonio da Silva Castro.

São Félix, como todo o vale do Paraguaçu e terras bem distantes, inicialmente pertencia aos domínios de Cachoeira. Em 1889 os conspiradores sanfelistas decidiram lutar para que São Félix ficasse livre do jugo de Cachoeira. Em 20 de dezembro, o processo de emancipação começou a se concretizar e o povoado foi elevado à categoria de Vila. Com o crescimento do comércio e das indústrias, a Vila alcançou um desenvolvimento considerável. Diante disso, o então governador do estado da Bahia na época, Virgilio Clímaco Damásio, elevou a Vila à categoria de cidade.

Visão panorâmica da linda paisagem emoldurada pelo rio Paraguaçu e as moradias construídas do vale para a montanha

Visão panorâmica da linda paisagem emoldurada pelo rio Paraguaçu

Importantes figuras ilustres tiveram destaque local e no cenário nacional. Por exemplo: Ana Justina Ferreira Néri (Ana Néri), enfermeira, chamada de “mãe dos brasileiros”, por sua nobre atuação na Guerra do Paraguai; André Rebouças, engenheiro e abolicionista; Augusto Teixeira de Freitas, maior Jurisconsulto das Américas; Ernesto Simões Filho, fundador do Jornal “A Tarde”. Como ministro da Educação contribuiu para implantação do Colégio Estadual da Cachoeira; Manoel Tranquilino Bastos, maestro e instrumentista.  Através de publicações cedidas pelo diretor do Arquivo Público Municipal, Oséas Souza, e da colaboração da professora Auremita Nascimento (Mita), menciono mais alguns nomes ilustres, como: Américo Simas, engenheiro civil, responsável pela construção da antiga usina hidroelétrica de Bananeiras, entre Cachoeira e São Félix, inaugurada em 1913; Salvador José Pinto, intendente (1893/1896); Ignácio Tosta, advogado; Professora Veríssima Vellasco de Andrade; Professora Adalbélia Pires Dourado, dentre outros.

Igreja Senhor Deus Menino

Fachada da igreja Senhor Deus Menino

A cidade de São Félix, intitulada “Cidade Presépio”, desperta a atenção pela sua linda paisagem emoldurada pelo rio Paraguaçu e as moradias construídas do vale para a montanha, dando-nos a nítida sensação de estarmos diante de um verdadeiro presépio. Está situada na margem direita do rio e separada da vizinha Cachoeira pela Ponte Imperial D. Pedro II. O belíssimo cenário observado do lado de Cachoeira é indescritível.

Sobrado que pertenceu aos pais de minha mulher

Sobrado que pertenceu a família Navarro de Britto

Destaca-se a arquitetura em estilo barroco e colonial (prédios e igrejas), o cruzeiro no Alto da Santa Cruz e as casas construídas na montanha.

Prédio da antiga detenção

Prédio da antiga detenção

 

Mercado Municipal

Mercado Municipal

Em uma volta rápida pela cidade fotografei sobrados e fachadas com riquezas arquitetônicas datados dos séculos XVII, XVIII e XIX. Iniciamos o roteiro pela Matriz de Senhor Deus Menino (Séc. XVIII),  com seu interior de uma beleza primitiva. Depois passamos em frente ao antigo prédio da Detenção (Delegacia de Polícia); o Mercado Municipal, localizado à Praça José Ramos. O prédio erguido em 1901 ocupa uma quadra inteira entre as ruas J.J. Seabra, 20 de Dezembro e Manoel Passos;

Paço Municipal

Paço Municipal

 

Sobrado dos Ramos

Sobrado dos Ramos

o sobrado dos Ramos; o Paço e a Biblioteca Municipal; a igreja de São Félix, padroeiro da cidade, cuja construção foi iniciada no século XVII e a antiga estação de trem (atual Sede da Fundação Luiz Ademir de Cultura), em estilo neoclássico, construída em 1881, situada na Praça Rui Barbosa.

Fachada da igreja São Félix

Fachada da igreja São Félix

 

Casa de Cultura Américo Simas

Casa de Cultura Américo Simas

 

(E) Estátua de Castro Alves; no fundo, a antiga estação ferroviária

(E) Estátua de Castro Alves; no fundo, antiga estação ferroviária

Nas imediações da praça fica a Casa de Cultura Américo Simas, onde está guardado o Carro da Cabloca, alegoria que participa das comemorações da Independência do Brasil. Seguimos pela Praça Ignácio Tosta (conhecida como Praça do Relógio) em direção ao Centro Cultural Dannemann, localizado na Av. Salvador Pinto, às margens do rio.

Praça Ignácio Tosta

Praça Ignácio Tosta

A criação do centro data de 1989, com o objetivo de realizar exposições, oficinas, seminários e cursos, Festival de Filarmônicas e a Bienal do Recôncavo. No interior,  acompanhamos uma parte do processo de fabricação dos charutos que é feito de forma artesanal por mulheres e pode levar até 30 dias (entre montagem, secagem e acabamento). Hoje a Dannemann S/A, que foi sede da primeira fábrica de charutos do Brasil, a Cia. Brasileira de Charutos Dannemann, fundada em 1873 pelo alemão Gerhard Dannemann é uma multinacional.

Fachada do Centro Cultural Dannemann

Fachada do Centro Cultural Dannemann

 

Vista parcial da exposição da Bienal do Recôncavo

Vista parcial da exposição da Bienal do Recôncavo

 

Detalhe do processo de preparação artesanal do charuto

Detalhe do processo de preparação artesanal do charuto

 
Vale uma visita ao cruzeiro no Alto da Santa Cruz, um dos pontos alto da cidade. E de lá, apreciar o belíssimo cenário do rio Paraguaçu, palco de fatos relevantes com a participação de bravos cachoeirenses e sanfelistas. O acesso pode ser feito a pé  (com ótimo preparo físico ) ou de carro pela ladeira da Misericórdia, considerada um dos cartões postais da cidade que dá origem ao título a São Félix de “Cidade Presépio”. O local no passado serviu de abrigo dos Jesuítas, e onde eram atendidos os feridos da guerra da Independência.
Cruzeiro do Alto da Santa Cruz

Cruzeiro do Alto da Santa Cruz

 

Fonte milagrosa de Santa Bárbara

Fonte milagrosa de Santa Bárbara

Outra dica interessante é visitar a fonte natural dos efeitos milagrosos de Santa Bárbara, que fica na ladeira dos Milagres no Morro Santa Bárbara (antiga estrada para o município de Muritiba). Durante a festa religiosa que acontece em dezembro, o local recebe centenas de romeiros.

Acesse o endereço http://www.arquivomunicipaldesaofelix.blogspot.com/ e conheça o valioso trabalho realizado pelo Arquivo Público Municipal de São Félix.

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