“Louco para mim é uma pessoa que tem o QI desenvolvido, que poderia inventar algo em prol, em benefíco da humanidade e ele desenvolve uma arma de destruição em massa”. Esta é a opinião do vendedor de rua, baiano, Carlos Magno de Souza, sobre a loucura. E para você, o que é loucura? O documentário “As Cores da Utopia” tendo como fio condutor os meandros da vida do artista plástico baiano, Reginaldo Bonfim, portador de esquizofrenia, coloca em evidência a polêmica relação entre os conceitos de loucura e normalidade tal como utilizados pela sociedade contemporânea. Os principais debatedores são pessoas comuns, que não são vistas como “fontes oficiais” nas discussões midiáticas e acadêmicas em torno da questão da doença mental, mas que revelam profunda humanidade e sabedoria a respeito do tema.
As Cores da Utopia tem lançamento previsto para o Dia Nacional da Saúde Mental, 10 de outubro, em Salvador. O longa-metragem de uma hora e vinte minutos de duração é uma produção independente, dirigida pelo psicólogo, mestre em filosofia e bacharel em direito, Júlio Nascimento. (Direito de imagem. Denuncie abuso).
Reginaldo Bonfim, negro, como boa parte da população de Salvador, e de origem humilde, como a maior parcela da população brasileira, é um autêntico exemplo de que a arte pode (ou poderia) transformar realidades e servir como propósito de vida.
Bonfim, com talento nato, começou a pintar com 5 anos de idade. Posteriormente cursou 4 anos na Escola de Belas Artes de Salvador onde aprendeu a dominar técnicas variadas para encher de cores e formas telas, madeirites, tecidos, papéis, portas e tetos. Suas centenas de obras, de variados estilos e tamanhos, foram reconhecidas por muitos em Salvador, bem como quando se mudou para São Paulo e, posteriormente para o Rio de Janeiro, onde foi convidado a apresentar suas obras no programa do Chacrinha, veiculado pela Rede Globo na década de 1970. Suas pinturas foram expostas em galerias destas três capitais brasileiras e foram levadas para o exterior por meio de turistas estrangeiros que as compraram.
No entanto, submetido a condições desumanas no eixo Rio-São Paulo, logo a doença mental se manifestou, sendo agravada pela internação involuntária a que pessoas alheias à sua família o expuseram. De volta à sua terra natal, passou a ser discriminado e começou a pintar nas ruas, mais habitualmente no Terreiro de Jesus, Pelourinho, centro histórico da capital baiana onde, abusando de sua condição, pessoas inescrupulosas o enganavam, pagando valores irrisórios por seus trabalhos.
Enredo – Ao tematizar o processo de discriminação social que se abateu sobre Bonfim após a manifestação da doença, o diretor do longo-metragem, Júlio Nascimento, pesquisador na área de saúde mental, reúne conhecimentos multidisciplinares adquiridos em sua formação acadêmica para fazer um questionamento sobre a noção de “normalidade”
Em sua tese, o documentário amplia o conceito de loucura circunscrito, até então, pelo discurso proferido por pessoas ditas normais, apoiado por um segmento da psiquiatria arcaica e desumana. O filme promove a discussão que remete à Michel Foucault, acerca das forças que fabricaram a loucura e a perpetuam na forma como foi politicamente concebida. E relativiza esse conceito ao aplicá-lo, também, de maneira mais apropriada, à conduta irracional daqueles que, praticando as maiores atrocidades, conduzem a humanidade ao caos, mas, apesar disso, se julgam “normais” e no direito de excluir da convivência social seus semelhantes, movidos apenas pela intolerância à diferença. Daì o questionamento: o que é normalidade? Onde se situa a verdadeira patologia? Desta forma, o longa abrange também a loucura manifestada na prática do próprio sistema econômico, que, de forma cada vez mais irracional, fabrica armas de destruição em massa e destrói a sua própria fonte de vida, que é a natureza.
Para mostrar essa loucura coletiva, o filme exibe imagens da explosão nuclear sobre Hiroshima, cedidas pela Associação das Vítimas da Bomba Atômica no Brasil, sediada em São Paulo e imagens da destruição do meio ambiente e as consequências do aquecimento global, cedidas pelo Greenpeace (resultado de antigas parcerias).
Importância- O documentário contribui para desmistificar a visão preconceituosa que desfigura a pessoa portadora de esquizofrenia representando-a como um ser agressivo, bizarro, irracional e inútil, escamoteando suas demais dimensões humanas positivas e produtivas. Com efeito, a sociedade desqualifica completamente a pessoa portadora de transtornos psiquicos, negando sentido à sua fala, às suas reivindicações, à sua criatividade e aos seus sonhos.
As Cores da Utopia é o primeiro longa de Júlio Nascimento que, aliando esforços ao de um grupo de profissionais e parceiros, produziu o filme de forma independente. A exclusão social de Bonfim devido a esquizofrenia, apesar de sua alta produtividade, serviu de ponto de partida para a construção do filme.
Sem fins lucrativos, o longa promove uma hora e vinte minutos de reflexão acerca de uma questão que a sociedade desde a muito tenta isolar nos manicômios, mas que precisa ser integrada definitivamente à dinâmica da vida social, pois lhe é indissociável, e revela uma faceta, ainda que diferente, de nossa própria condição humana.
A obra pretende ser um instrumento facilitador das discussões em torno da necessidade de uma mudança de postura e mentalidade acerca do doente mental, capaz de levar as pessoas a tratá-lo como ser humano produtivo e como cidadão, contribuindo, assim, como reforço para a luta antimanicomial.
Movimento da Luta Antimanicomial – Esta luta tem como ponto geral a reivindicação em torno da efetiva execução de políticas públicas voltadas para a saúde mental, capazes de resolver, de forma definitiva, as questões atinentes aos maus-tratos e à exclusão social do doente mental em nossa sociedade.
Embora a solução de tais questões dependam, em princípio, da conduta do poder público, sem uma profunda mudança de postura em relação ao doente mental, seu sofrimento não terá fim. Posto que uma verdadeira Reforma Psiquiátrica depende, também, da adoção de uma nova visão e de uma nova atitude por parte do conjunto da sociedade, acerca da dimensão humana do portador de doença mental, capaz de lhe restituir a dignidade e o direito de exercer plenamente sua cidadania.
DADOS SOBRE AS CORES DA UTOPIA
FICHA TÉCNICA
Nome: As Cores da Utopia
Diretor: Julio Nascimento
Produção: EBN Consultoria Psicológica
Roteiro: Julio Nascimento
Fotografia: Guilherme Carneiro
Ano: 2011
País: Brasil
Gênero: Documentário
Cor: Colorido
Duração: 80 minutos
Sobre o Diretor
Nome: Júlio de Oliveira Nascimento
Síntese do Currículo: – Mestre em Filosofia pela PUC-SP – Bacharel em Direito pela PUC-GO – Psicólogo (PUC-GO) – Ex – Presidente do Conselho Regional de Psicologia 9ª Região– Goiás-Tocantins – Professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) – Membro do Conselho de Comunidade na Execução Penal – Consultor Científico do Curta Metragem “Antecipando o Absurdo” – Produtor, pelo CRP 09, do Curta Metragem “Césio 137 o Brilho da Morte” .
Contato: (62) 8141-5839, (62) 32611417 – E-mail: julio.nascimento.go@hotmail.com
SINÓPSE: “Louco para mim é uma pessoa que tem o QI desenvolvido, que poderia inventar algo em prol, em benefíco da humanidade e ele desenvolve uma arma de destruição em massa”. Esta é a opinião do vendedor de rua, baiano, Carlos Magno de Souza, sobre a loucura. E para você, o que é loucura? O documentário “As Cores da Utopia” tendo como fio condutor os meandros da vida do artista plástico baiano, Reginaldo Bonfim, portador de esquizofrenia, coloca em evidência a polêmica relação entre os conceitos de loucura e normalidade tal como utilizados pela sociedade contemporânea. Os principais debatedores são pessoas comuns, que não são vistas como “fontes oficiais” nas discussões midiáticas e acadêmicas em torno da questão da doença mental, mas que revelam profunda humanidade e sabedoria a respeito do tema.
Bonfim, começou a pintar com 5 anos de idade. Posteriormente cursou 4 anos na Escola de Belas Artes de Salvador onde aprendeu a dominar técnicas variadas para encher de cores e formas telas, madeirites, tecidos, papéis, portas e tetos. Suas centenas de obras, de variados estilos e tamanhos, foram expostas em galerias de Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 1971 foi convidado a apresentar alguns de seus quadros mais notáveis no Programa do Chacrinha, veiculado pela Rede Globo. No entanto, após o surgimento da doença (esquizofrenia), passou a ser discriminado e explorado pela sociedade “normal”. Embora produtivo, jamais foi aceito mesmo por aqueles que admiram seus quadros. Tornou-se artista de rua, o que não impediu de continuar pintando de forma genial.
O filme promove a discussão, que remete à Michel Foucault, acerca do conceito de “loucura” no contexto maior da discussão, sobre as forças que a fabricaram e a perpetuam na forma como foi politicamente concebida. Relativiza esse conceito ao aplicá-lo, também, de maneira mais apropriada, à conduta daqueles que, praticando as maiores atrocidades contra sua fonte de vida, a natureza, conduzem a humanidade ao caos, mas, apesar disso, se julgam “normais” e no direito de excluir da convivência social seus semelhantes, movidos apenas pela intolerância à diferença. Daì o questionamento: o que é normalidade? Onde se situa a verdadeira patologia? Critica também a psiquiatria ortodoxa baseada na internação e o tratamento cruel e desumano dispensado as pessoas nos manicômios. O vídeo mostra que as pessoas portadoras de transtornos psíquicos são produtivas e podem dar grandes contribuições à sociedade, se tratadas com respeito e dignidade.
As Cores da Utopia é o primeiro longa de Júlio Nascimento que, aliando esforços ao de um grupo de profissionais e parceiros, produziu o filme de forma independente. A exclusão social de Bonfim devido a esquizofrenia, apesar de sua alta produtividade, serviu de ponto de partida para a construção do filme. Sem fins lucrativos, o longa promove uma hora e vinte minutos de reflexão acerca de uma questão que a sociedade desde a muito tenta isolar nos manicômios, mas que precisa ser integrada definitivamente à dinâmica da vida social, pois lhe é indissociável, e revela uma faceta, ainda que diferente, de nossa própria condição humana.
Texto: Amábile Borges Nascimento
Foto: JFParanaguá
Estamos em meio a realidade…verdade interessante o assunto
Prezada Regina Santos,
Agradeço-lhe inicialmente pela visita ao blog. Concordo com o seu comentário, a respeito de Reginaldo. Tive apenas um contato com ele, inclusive permitindo-me registrá-lo trabalhando. E estou feliz em contribuir de alguma forma com o cineasta Júlio Nascimento no seu documentário sobre Reginaldo.
Abraço.
JFParanaguá.
Vi o artista por várias vezes no Terreiro de Jesus e Pelourinho. – UM FENÔMENO SOBRENATURAL- Hoje ele saiu do anonimato e será etermnamente lembrado. Louco? são os lúcidos que não o reconheceram em seu momento a sua sensibilidade, o ser cabal agregado a sua arte.
“Tudo que se faz na vida no tempo fica retido por isso há muitos mortos lembrados e muitos viovos esquecidos”
Eternamente… REGINALDO
Adorei o post! Vou procurar saber mais! Acabei de fazer um post sobre um grupo que faz arte urbana bem legal, vai lá ver!
Beijos,
Mari
atelierinbox.com.br