O grafiteiro Black, paulista de nascimento Kleber Gonçalves dos Santos, residente no Rio de Janeiro, onde atua na cena urbana, encontra-se em Salvador, curtindo um período de férias com a família e amigos cariocas. Sempre que retorna, reúne-se com outros grafiteiros para pintar em diferentes pontos da cidade, inclusive produzir nova intervenção na parede lateral da casa de sua mãe – Rua Nova de itapagipe (esquina com Fernando Bagge, 10), Peninsula Itapagipana, bairro da Ribeira -, utilizada como suporte temporário para sua obra de arte. No mesmo período do ano passado, estive no local para registrar o grafite que ele fez com os amigos Pinel, Mônica e Zunbi.
Desta vez, fiquei surpreso ao receber um email dele com fotos do grafite me homenageando com uma caricatura de fotógrafo, interagindo com elementos do cenário urbano. Qual é o ser humano que não gosta de ser homenageado? Obviamente que a resposta será: seja qual for à maneira da homenagem, o importante é ser lembrado pela pessoa que lhe tem apreço, consideração, amizade e carinho.
O meu agradecimento ao grafiteiro Black foi contar um pouco da sua história como artista de rua na entrevista a seguir:
Como aconteceu seu contato com a arte?
Durante o tempo que morei em São Paulo, vi muitos grafites por lá. Quando me mudei para o Rio de Janeiro comprei uma pistola e um compressor e fiz uma pintura na rua, outra, e outra, até hoje.
Quanto tempo na cena do grafite?
Comecei a pintar por volta de 87, mas não fiquei direto. Parei uns três anos. Depois retornei aos poucos. O Bobi me ajudou muito nisso. Acho que se não fosse pelo seu incentivo não teria voltado a pintar. Certo dia, o encontrei na rua e ele me disse que ia rolar um evento. Quando cheguei ao local, ele me deu tinta, lápis de cor, enfim, todo material.
Você faz parte de alguma crew?
Sou um dos sete integrantes da crew471. O Bobi, por exemplo, foi um dos fundadores do grupo.
De quem foi a ideia e qual o significado do 471?
O consenso do grupo ao escolher 471 por ser o número da linha de ônibus que passa pelo nosso bairro na Baixada Fluminense.
Quando foi a sua primeira pintura?
Eu estava fazendo silk, quando um rapaz me procurou pedindo pra pintar umas blusas, entregando-me em seguida uma lata de spray pensando que era assim que se fazia silk. A minha experiência com o spray começou a partir daí.
Como foi a sua trajetória até hoje?
Não tenho do que reclamar. Claro que hoje em dia os grafiteiros tem fácil acesso aos materiais de boa qualidade. Mas, boas latas não fazem bons grafiteiros. No começo tudo era bem difícil, pois não havia condições e o material era muito caro. Outro problema: a dificuldade pra conseguirmos muros, devido presença da polícia que sempre nos enquadrava. Como não conhecia a arte, fazia os grafites com látex misturando vários corantes e uma lata de spray para contornar os desenhos. Hoje tudo é diferente, pintamos com tintas importadas, viajamos pra cidades de outros estados e países.
Quais foram às cidades brasileiras e de outros países que você grafitou?
Foram poucas cidades. Além da capital carioca, pintei em Barão de Mauá, Duque de Caxias, Nova Iguaçú, São João de Meriti, Niteroi, Cabo Frio, todas do estado do Rio de Janeiro; São Paulo, no centro e nas cidades de Osasco e Caucaia do Alto; Salvador e Porto Seguro, na Bahia; Roma e Pádova, Itália e Miami nos EUA.
Você faz trabalhos particulares com o grafite?
Além de fazer o que amo, ainda tiro o meu sustento do grafite. Sou grato a Deus pelo o que ele fez. Aliás, ele fez tudo, começando pelo dom que me deu.
Você foi pichador?
Não me considero um pichador.
Você pode contar sobre o trabalho social que desenvolve no Rio?
O Rio é uma cidade com sérios problemas sociais. Nas favelas participo das oficinas de grafite, dando aulas de desenho e pintura. Usamos a arte apenas como ferramenta para ressocialização dos jovens.
Tem outro projeto em vista?
Gostaria de firmar uma parceria com a Prefeitura do Rio, para implantar um projeto nos moldes do Salvador Grafita. Quando retornar, pretendo dar continuidade as discussões sobre o assunto.
Como você vê o crescimento do grafite nas galerias de arte?
Nós ficamos muito tempo escondidos. Existem grafiteiros com verdadeiras fortunas artísticas que precisam ser reconhecidos. A galeria seria o espaço ideal para expor. Mas, acredito que a rua foi o começo de tudo e nunca deverá ser esquecida. Foi na rua que o grafite surgiu. Por isso, não devemos esquecer as nossas raízes? A rua é a maior das galerias onde a arte pode ser apreciada por quem não tem condições de estar ou ir até uma galeria de arte.
Sendo um artista carioca o que lhe traz sempre a Salvador?
Amigos, grafites, minha família e essa cidade que não tem igual.
Além do grafite, que outras atividades você desenvolve?
Sonorização e alguns serviços gráficos.
Ficou muito bom mesmo, a arte de rua está ficando cada vez melhor!
Um grande abraço meu amigo.
Ai, demorou garoto! Gostei muito. Vc precisa divulgar o restante das suas obras. Grande abraço.m