Desde a adolescência, entre os 14 e 15 anos, Raulzito ou Zito já participava de um grupo de skatista, que na época, era conhecida como gang Gnomos. Em 97, o paulista de Cotias iniciou sua trajetória na cena do grafite. Artistas nova-iorquinos e europeus, além dos Gêmeos, Alex Vaullari e o alemão Dain, foram fontes para sua inspiração.
Fotógrafo e expert em áudio visual, Raulzito criou seu próprio estilo, aproveitando os conhecimentos adquiridos com a fotografia e o grafite, surgindo daí o fotografite. Uma técnica onde ele explora a sua criatividade, mesclando a colagem de imagens, preferencialmente do acervo em preto e branco com o grafite, estabelecendo um dialogo facilmente identificado nos muros e paredes das cidades onde estão expostas a sua arte em parceria com outros artistas.
Sinto-me um privilegiado ao documentar as etapas de cada trabalho de Raulzito em Salvador. A primeira vez foi no 1º Encontro Internacional de Grafite organizado pelo ICBIE. A segunda aconteceu durante a intervenção próxima a Praça da Sé, centro da cidade, tendo como parceiros o grafiteiro Chagas e o fotógrafo Lúcio Telles, ambos sergipanos.
Além do privilégio citado acima, a amizade e o reconhecimento dele pelo trabalho que desenvolvo, registrando através das minhas lentes as diversas manifestações artísticas, está sintetizado no e-mail que enviou para mim com a seguinte mensagem: “Fala Paranaguá!!! como é que está meu velho??? Seguinte, estou na área, vou fazer uns trabalhos por aqui, vamos ver se vc chega junto pra tirar umas fotos??”. Pois bem, além disso, ainda fiz uma entrevista com essa figura extraordinária. Conheça um pouco sobre o artista Raulzito nesta entrevista. Denuncie abusos. Direitos reservados.
Seu nome?
Raul Domingues Régis.
E o artístico?
Raulzito.
Quanto tempo está na cena do grafite?
Desde 97. São 14 anos de atuação.
Qual a sua nacionalidade?
Brasileiro.
Onde nasceu?
Sou Cotiense. Nasci em Cotias, município de São Paulo.
Quando você iniciou na arte de rua?
Entre 14 e 15 anos. Na adolescência participei de um grupo de skatista. A gente tinha uma espécie de gang chamada Gnomos. A partir daí, a gente começou a fazer pichação e grafite.
Você sofreu influência de algum artista?
Puts! Na época tinha muitos caras. A gente tinha muitas referências de artistas de Nova Iorque e também da Europa. Tinha um alemão que ainda existe que é o Dain, que fazia o 3D e a gente queria fazer também. Os Gêmeos e Alex Vallauri, que logo no começo teve exposição na cidade e foi um dos primeiros artistas de rua de São Paulo. Depois surgiu um monte.
Como se deu a sua transição da pichação/grafite para a colagem?
Eu estava numa época meio parado, distante com o grafite e muito envolvido com a fotografia – um acervo grande de imagens em preto e branco -, e tinha muita vontade de fazer alguma coisa, tirar da gaveta. E daí surgiu essa ideia de juntar o grafite com a fotografia pra gerar painéis fotográficos nos espaços urbanos.
A primeira vez que você veio a Salvador foi no 1º Encontro Internacional de Grafite, realizado em 2009?
Foi a primeira que vim pra trabalhar, ou seja, pintar. Mas, já conhecia a cidade de outras oportunidades.
Você se sente mais à vontade para fazer suas colagens em São Paulo ou Salvador?
Pra começar as políticas públicas daqui são mais leves, as pessoas aceitam mais, fazem menos caso. Pelo menos você testemunhou que a gente acabou de conseguir uma autorização dos policias daqui dessa área. Na verdade não foi bem uma autorização, mas uma garantia de que eles não iriam prender a gente (risos), referindo-se a ele próprio, Chagas e o fotógrafo Lúcio. Isso aqui deve ser um prédio privado, indicando a parede do fundo do Edifício Martins Catarino. Enfim, aqui eu acho que tem mais um pouco de liberdade, também tem um clima que é bom pra pintar.
Então, Salvador é mais tranquilo?
Claro.
Qual foi a temática escolhida para colagem nesse local (Rua das Vassouras, no centro da cidade)?
Aqui a gente fez uma parceria como pessoal do fotografite (Chagas e o fotógrafo Lucio, ambos sergipanos) que trabalha com a temática do folclore sergipano, divulgando a imagem de mãe Susana, personagem importante do folclore local. Já a minha colagem será a imagem de um retrato do Brasil, uma montagem… é um retrato só formado por várias partes de retratos feitos pelo Brasil. Então…
Você quer dizer então que é um mosaico?
É uma espécie de mosaico. Na verdade é… vamos falar por estado: um olho de Fortaleza, outro de Tocantins, um nariz de São Paulo, uma boca da Bahia e uma caneca de Pernambuco. Isso juntando num retrato só dá a cara do Brasil. Mais ou menos essa é a ideia.
Você vai fazer interferências com spray na colagem do painel fotográfico?
Com o uso do spray vamos aplicar diversas cores criando efeitos diferentes.
O grafiteiro Chagas vem dando seguimento a sua técnica da colagem?
Conheci o Chagas no evento internacional de grafites em Salvador. Agente fez uma interação bem free-style, fortalecendo uma amizade. Por conta disso – eu já estava utilizando essa técnica há bastante tempo em São Paulo -, ele começou a fazer com Lucio Teles utilizando um acervo fotográfico muito bom do folclore da região de Aracaju. Daí eles começaram a desenvolver o trabalho paralelamente. A primeira vez que a gente se encontrou foi quando estive recentemente em Aracaju pra fazermos murais juntos. Inclusive a gente fez um mural… uma interação muito doida durante o Festival de Folclore de Laranjeiras, depois decidimos vir juntos pra cá (Salvador), a fim de reproduzir o mesmo painel aqui. Está sendo uma missão, você está vendo.
Além dessa intervenção, existe proposta para outros pontos da cidade?
A gente vai se juntar com o pessoal do grafite daqui pra pintar, provavelmente com o Finho, Sista Kátia, Júlio, Bigod e Sluts. Aproveitei pra trazer também coisas menores pra essa junção com a galera.
Como se dá o passo a passo até a conclusão do painel ou mural?
A gente tem um trabalho de pesquisa fotográfico. Geralmente a gente pega coisas de arquivo, mas, também alguma às vezes fotografa já pensando na ação. O primeiro passo é fotografar no digital. Ás vezes a gente fotografa em filmes também, digitaliza, joga no foto shop, aí tem uma série de filtros que a gente coloca, tem a interpolação que agente às vezes faz. Mas geralmente é o processo mais simples de dar o tratamento no preto e branco, regular contraste, uma série de filtros que se usa para conseguir o efeito da granulagem desejada, separar os pedaços ou em tiras. Isso vai depende do que a gente quer fazer.
Como se fosse a montagem de uma peça de autdoor?
Exatamente, utilizando a cola para fixação das lâminas impressas.
É uma cola comum?
É uma cola a base d’água que cria uma película. É uma cola comum. O papel é o mesmo que é usado em autdoor. Normalmente em São Paulo faço no papel sufite em pedaço AO. Só que dessa vez, especificamente, a gente fez em tiras, entendeu? A gente organizou as imagens em tiras e depois cortou. A impressão é a laser ou jato de tinta a base de solvente.
As fotos são sempre em preto e branco?
É possível fazer colorido também, mas a nossa proposta é em P&B (preto e branco).
A foto P&B é mais rica em detalhes?
Tem a coisa da forma. Eu particularmente gosto mais do preto e branco. Enfim, a gente faz isso em gráfica. É um processo comum.
Quais são os endereços eletrônicos para o internauta manter contato e ver os seus trabalhos?
www.flicker.com/gnomos, www.myspycer.com/raulzito e
A arte é essa coisa fantástica. Talvez o que mais nos aproxima do divino!
A técnica utilizada no fotografite despertou a minha curiosidade…
Parana, Parabéns!